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Relembrando que este post faz parte de 4 posts (dois anteriores e um posterior) todos tratando dos nossos 98 dias na Europa.
Livry é praticamente um vilarejo no Sudeste da França (240 km de Paris)
com aproximadamente 710 habitantes. Para fazer compras etc.. a gente dirige uns
4 km até St Pierre Le Moutier (2.000 habitantes) ou 15 km ate Sancoins (3100
habitantes). Para algo maior, a gente ia ate´Nevers – coisa de 30 km e que
possui 35.000 habitantes.
Fica entre Nevers e Clermont Ferrand.
Local tranquilo e pacato, praticamente uma área rural. Com sítios em
volta, um Domaine (La Perrine) que produz vinhos a base de Pinot Noir e
Chardonnay Muito gado charolês, praticamente o único que vi na região. Parece
que é quase um orgulho do pessoal se dedicar ao charolês. Basicamente o que se vê
é gado, alguns carneiros e parreiras de uva. E sempre pelo meio arvores
enormes, em grande quantidade os famosos carvalhos franceses. Ficava imaginando
o trabalho que deve dar para derrubar um desses...
Na frente da nossa casa tinha uma igreja do séc. 13 sempre fechada.
Vimos ela abrir duas vezes, para enterros. Bonita, austera, medieval mesmo.
Sempre o que mais chama a atenção nestas igrejas são os vitrais e a porta de
entrada. Gosto de reparar no desgaste das pedras nas escadas ou nos pontos de
maior passagem de pessoas e ficar imaginando quantos já passaram por ali, com
diferentes maneiras, diferentes destinos.
Na quarta feira tinha uma feira livre em Sancoins. Muito no estilo das
brasileiras, mas tinha uma variedade maior de artigos.. Roupas, janelas (preocupação
em isolar o ambiente e diminuir o gasto com aquecimento). A parte de comida era muito especial. Tudo que
é tipo de mel, temperos, peixes, carnes, com destaque para as carnes de porco.
Muito tipo de queijo, uma banca de massas italianas que vendia inclusive grana
padano verdadeira e boa... Enfim uma delícia. Junto da feira tinha uma
pâtisserie (doces em geral e pães também) que era absurdamente boa.
Sobre a comida em geral na França tem que abrir um parênteses... (Tudo,
em praticamente toda a parte é sempre muito bem feito. Caprichado. Na aparência
e no sabor. A parte de salgados, sempre bem temperada, sem excesso de massa ou
com massa pesada. Os doces sempre com sabores sutis, nunca com excesso de
açúcar ou massa. Mesmo em lugares pequenos, escondidos, seja no restaurante,
seja na pâtisserie (doces) ou na boulangerie (salgados) A gente não tem
surpresa ruim. Eliana fez uma observação que – creio eu – é parte da chave para
entender isto. Em geral as pessoas comendo estão apenas comendo, lentamente e –
no máximo – conversando com outra pessoa. Não se vê gente comendo na rua,
enquanto anda, ou olhando o celular e trocando mensagens enquanto come ou
coisas deste tipo. Quero dizer – existe um público que realmente aprecia e
valoriza a boa comida).
Não quero dizer que em outros lugares não seja parecido. Acredito que Itália
e Espanha sejam similares. Do pouco que conheço. Mas na França a gente percebe
uma atenção muito grande a isto.
Logo que chegamos a Livry era início de setembro e estava em plena época
da colheita de uvas. Que sorte a nossa. Fomos ajudar a colher pinot noir na
videira de um vizinho da frente, que produz um vinho orgânico chamado Domaine
Perrine (https://www.biocoop-nevers.fr/producteurs-biocoop-nevers/domaine-de-la-perrine-6413.html) . Foi uma
experiência muito legal. Cansei um pouco pois o sol forte e a gente trabalha
meio agachado. Mas a sensação de estar ajudando a construir um vinho, foi muito
legal. Num lugar sem encenação ou algo assim. Apenas trabalhando em grupo
(vários vizinhos e alunos de escola vêm – como voluntários – ajudar na colheita). Este ano foi uma safra especialmente
abundante. A uva pinot noir é meio que a rainha das uvas para vinho. Produz os
famosos Borgonha e em geral é bem chata de se aclimatar. Mas aqui é o lugar
natural delas. Então é bonito de ver aquele parreiral todo cheio de cachos
bonitos. As bagas são doces e gostosas de mastigar. Na hora do almoço íamos para
um galpão, onde a esposa e a mãe do Fabricio (dono da vinícola) tinham feito um
almoço para nós. Elas fazem questão (vimos isto em outros lugares) de nos
servir, cada prato. Nada de todos irem na panela e pegar quanto querem, como
querem. Muito bom, interessante.
A região é uma fronteira tripartite entre a regioes Nievre (que pertence a Borgonha), Cher e Allier. Então acaba tendo uma mistura de culturas, preferencias agricolas, comida etc... Mas nada que impacte demais, o importante é aproveitar mesmo.
Outra coisa muito legal de fazer foi o passeio de canoa pelo rio Allier.
Umas 3 horas remando, nós sofrendo um pouco. Rio um pouco raso demais (a parte
boa nisto é que no pior caso descíamos e íamos a pé, rsrsrsrs). Mas muito bom
ficar curtindo a paisagem, lanchinho numa praia etc.
Passamos 6 semanas ali meio que sem sentir. Dávamos umas voltas a pé,
liamos bastante. Tínhamos uma bicicleta, mas acabamos não passeando nela, não
surgiu oportunidade ou algo assim. Sempre dávamos uma escapada para cidades
vizinhas (uma ou duas vezes por semana) – especialmente St Pierre, Sancoins,
Nevers (menos) e por ai a gente curtia. Sempre alguma coisa interessante para
olhar. Construções muito antigas, pareciam coisa de mais de um século. Paredes
com quase um metro de espessura, janelas tradicionais (vidro por dentro e folha
de madeira fechada por fora).
Como foram 3 semanas em Setembro (final de verão, ainda quente, dias mais longos) e 3 semanas em Novembro (quase inverno, já frio, chuvoso, dias nublados, garoa, temperaturas beirando o zero grau, arvores já quase sem folhas) foi interessante observar esta mudança bem marcada de estações. Como Curitiba fica numa região intermediaria, estas mudanças são mais difusas.
Coisas que me chamaram mais a atenção neste período e também ou em
conjunto com as viagens que fizemos na mesma época:
– O cuidado na disposição do lixo. Tem sacos
de cores diferentes conforme o tipo de lixo (3 cores basicamente), além de um
container para jogar garrafas e vidro em geral (sem as tampas, rolhas etc.).
Para se desfazer de objetos diferentes (janelas, portas, vidros de janela,
galhos de arvore etc.) – tem um lixeiro municipal que permite acesso grátis 2
ou 3 vezes ao mês.
- Uma certa igualdade no jeito das
pessoas em geral – roupa, carro, comportamento etc... Todos têm condição de ir
comprar um doce bom, comprar pão, ir no supermercado etc. Naturalmente o
pessoal de padrão bem acima a gente nota – em geral – pelo tipo de carro. As
tradicionais Mercedes e BMW e similares.
- A dedicação que eles têm, quando a
mesa, em experimentar, saborear, avaliar, seja a comida ou a bebida. Sempre
prestando atenção no que está sendo ingerido. A par disso, muito raramente (não
vi nenhum caso assim) seja em casas ou em restaurantes, o pessoal se serve como
quer. O normal é alguém servir o prato pronto da forma mais estética possível.
- Diferentemente de Portugal e
Inglaterra que a gente vê bastante área não explorada (matos, florestas etc.)
na França, em geral quase tudo é cultivado. Eles possuem parques enormes, mas
fora disto, o terreno quase todo é dedicado a alguma criação ou plantação.
- Como estávamos por lá bem no meio
do Outono, os preparativos para o inverno são fortes. Especialmente a estocagem
de rolos de feno para os animais. Cobertura nos cavalos (dizem que são mais
sensíveis ao frio) e coisas deste tipo.
- Em qualquer lugar que se vá, a
cortesia no trato. Não confundir com amizade ou algo nesta linha. Cada um na
sua, mas o trato entre todos sempre muito cortes. Bom dia, boa tarde, até logo,
tenha um bom dia ou boa noite, obrigado etc... Inclusive no transito, não se vê
de forma algumas manobras hostis, fechando outros carros, pressionando para
ultrapassar e coisas deste tipo. Inclusive com veículos pesados.
- Alias – o policiamento nas rodovias
não diria que é muito, mas existe em boa quantidade, seja na forma de radares
seja na forma de equipes ou batidas em lugares ao longo das rodovias.
- A questão da língua, me pegou de
surpresa. Imaginava que a esta altura mais pessoas falavam Inglês ou
Espanhol. Nada disso. De vez em quando
(não é raro…) a gente encontra alguém falando inglês. Espanhol raramente. No
supermercado perto de nós, uma caixa estava estudando Português.... Como todas
as vezes que estive na França, segui o mesmo rumo, evitar ao máximo o Inglês.
Tentar algo em Frances, ir navegando, se a pessoa pergunta se a gente fala
inglês (como é bom quando isto acontece) ai si muda a língua, fora isto, tem
que dar um jeito de se entender como der. Diria que no geral, para o dia a dia,
conseguimos nos virar bem.
O respeito e gentileza no transito ou
andando na rua. Sempre. Dando passagem, respeitando regras de transito,
cumprimentando, agradecendo etc.
COMPLEMENTANDO.....
depois a gente vai conversando e vai lembrando de outras coisas interessantes.
- Existe um deposito (uns 15 km da casa onde estavamos - tem varios pela França ) para tipos especiais de lixo. O cidadão tem direito a usar o mesmo algumas vezes no semestre. Se passar disto paga uma taxa bem razoavel. Dai a gente leva lá basicamente - materia vegetal (galhos, folhas etc), metais, telhas, peças grandes de madeira, moveis velhos etc. Tem caçambas grandes onde a gente deposita - e tem alguem de olho para garantir que estamos depositando no local correto. Fora isto, lixo reciclavel em geral é recolhido cada 15 dias. Tem containers em varios lugares para levar garrafas de vidro
- Perto de onde estavamos tem um tipo mega brecho. Onde o pessoal leva de tudo. Eletronicos antigos, muita roupa, muitos moveis (otimos), talheres, louças etc... Tudo super arrumado e organizado e por um preço muito interessante. Dá para montar uma casa tranquilamente, com valores bem abaixo do que se fosse comprar novo.
LEMBRANÇAS ESPECIAIS
Neste período a gente traz muita coisa boa,
mas algumas foram top demais. Aí vão:
- Creio que a que mais me pegou foi
ajudar na colheita da Pinot Noir logo que chegamos, no domaine de La Perrine;
- Passeio de canoa no rio Allier;
- A pizza no Chat Vert;
- Food truck de comida chinesa na
terça à noite em St Pierre;
- Açougue em frente a igreja de St
Pierre (mesmo local do food truck mencionado acima);
- A feira das quartas feiras em
Sancoins;
- Almoço no primeiro dia com o
Alexandre, em Nevers, no La Simplicite;
- Almoço no Le Lord em Nevers;
- Andar a noite nas ruelas de Chaise
Dieu;
- A vista do alto do Puy de Dome;
- A cidade de St Flour como um todo
(a parte antiga me refiro);
- A boulangerie e pâtisserie Mesnil
Aurelien em Sancoins;
- passear na cidade quase museu - Apremont sur Allier.
Os bosques se preparando para o Inverno - observar que a variedade de especies vegetais é bem menor que uma floresta Atlantica ou Amazonica ou mesmo comparado com o Cerrado.
A matriz de Souvigny e a fonte de agua para os peregrinos em frente a igreja acima
haja folha nestes preparativos para o Inverno..
rua de Sovigny - este predio é um antigo presidio
Apremont sur Allier. Esta vila foi toda comprada pelo dono do castelo acima e virou uma vila meio museu meio espaço de lazer. Local super agradavel. A beira do Allier e quase na junção deste com o Loire.
Acima sempre Apremont
painel solar e escultura no centro de Nevers
Uma igreja muito simpatica e interessante em Nevers - -chapelle Saint Marie
Santa Bernadete em Nevers
a colhetita de Pinot Noir na propriedade do Fabrice (domaine La Perrine)
jantar com amigos em Riousse na casa de Anette e Alexandre
e dá-lhe colheita
no meio dos trabalhos, intervalo para almoço comunal - bom demais.