Abaixo segue uma apreciação ou fechamento desta 1a parte da viagem.
A 2a parte (sul do Peru, norte do Chile e Noroeste da Argentina) vou colocando em novos posts.
11) Roteiro geral
Acho que uma boa ideia geral já está no primeiro post desta
viagem, mas enfim, a ideia básica foi sair de Curitiba, atingir Rio Branco no
Acre, atravessar a fronteira com o Peru, seguir para Cusco, dali seguir Norte
pelos vales e serras dos Andes até a altura de Lima, sendo as principais
cidades Ayacucho e Huancayo. Dali seguir para Lima, uma breve passada pela
cordilheira Huahuash, que já pertence a cadeia da Cordilheira Blanca (norte do
Peru), voltar, descer o litoral peruano, norte do Chile, visitar a região de
altiplanos na altura de Arica e Iquique, passar pelo Atacama, atravessar para a
Argentina e visitar alguns locais do Noroeste da Argentina.
No total foram 17.000 km, em
50 dias (descontando uma semana de uma ida a Curitiba a partir de Lima),
com diversas passagens acima de 4 mil metros de altitude – o recorde ficou com
a ABRA (passo) de xx a 4.700 metros aproximadamente.
22)
Dicas práticas
2.1) Sobre documentos, veículos etc.
Pessoal no Peru não é obcecado em verificar se o carro está
com todos os itens em ordem. Mas é indispensável comprar o seguro SOAT (lesões em terceiros – pessoas no caso) na
primeira cidade de maior porte (Puerto Maldonado ou Cusco no nosso roteiro),
pois os policiais realmente ficam tensos se não tivermos este seguro em dia. Fora
isto, se houver algum acidente com uma pessoa (pela confusão do transito isto
acaba tendo uma boa chance) – o seguro cobre as despesas com hospital etc. Os
policiais peruanos não buscam propinas (ao que parece) mas adoram parar carro
estrangeiro, mesmo sabendo que provavelmente estamos com tudo em ordem. Ficam com uma conversa meio zonza, mas na
boa. Fui parado umas 10 vezes. Numa o
cara queria algum tipo de contribuição pois minhas luzes estavam apagadas.
Consegui escapar. Outra vez fui parado por excesso de velocidade mas o cara já
veio preparado pro bote. Difícil escapar.
Andar com luzes acesas
e cinto de segurança – em geral nestes países.
Na Argentina, ter o tal cambão, estojo (botica) de 1os
socorros, carta verde (seguro Mercosul)
– como é sabido, os policiais argentinos (especialmente em trechos perto
da divisa com o Brasil – diria que faixa de 300 km da divisa) são completamente
enlouquecidos para tentar “morder” uma
ajuda para reformas do posto policial e coisas deste tipo. A falta destes
acessórios ou documentos só aumenta a mordida.
No Chile, o fundamental é andar conforme a lei. O padrão ali já é outro. É bom não abusar.
Estilo peruano de dirigir – alarmes, buzina, musica,
motoristas amadores (nós) acabam sendo os que mais atrapalham pois ficam
bastante conservadores...
Muitas subidas e descidas – media 30 a 40 km/hora – nas
montanhas
No que se refere a 4x4 ou off road ou o que seja, a região
da cordilheira Huayhuash parece ser um bom local pra se divertir. Nos mapas a
informação aparece meio truncada, mas existem as seguintes estradas de terra e
passáveis
- Oyon – Cajatambo (este primeiro trecho tá bem ruinzinho
pelo que me falaram – umas 5 horas pra fazer cento e poucos
quilômetros...) – rumo Huaraz (Conocha), Orcos etc.
- Oyon – Raura – Huanuco – pelo meio das montanhas – esta
deve ser muito legal
- Quinchian – Llacma – Huallanca (rumo La Union e Huanuco) –
só que esta vai pelo vale – acho que poucas vistas dos nevados
- Em Churin (estação termal perto de Oyon a 3 mil metros de
altitude) tem uma estrada que sobe pros campos de altitude (rumo noroeste – laguna Chaulhacocha) que parece
que tem um visual legal também.
2.2) Altitude
Creio que a partir de 3 mil metros de altitude os efeitos
aparecem mais fortes, especialmente se você for dormir nesta altitude (quero
dizer – ir a locais mais altos que isto mas voltar para uma altitude menor no
final do dia traz muito menos efeitos colaterais). Chá de coca, evitar carne
vermelha e bebidas alcoólicas. Tem também o Diamox que ajuda a acelerar a adequação do corpo a
altitude. Não faz efeito imediato, mas para quem vai ficar mais de 4 dias nas
alturas é bom tomar. Custa baratinho no Peru (faixa de 7 soles – 2,5 dolares
para 10 comprimidos – 1 por dia)
2.3) LOCAIS – Hotel, Restaurante, compras etc.
O hotel mais barato que paguei foi 30 soles (1 pessoa) em Santa Maria (mas era fraquinho... e bota
fraquinho nisto....)
Melhor custo- beneficio foi o hotel Finha em Huanuco – 40
soles, quarto legal, banheiro legal etc...
Melhores hotéis – Hacienda Santa Maria em Tarma, Lumini em
Rio Branco (AC) , Rivera em Ayacucho, Suites Larco em Lima (este pelo tamanho
do quarto e pela localização)
Melhores refeições
- Le Soleil e Incanto em Cusco
- ViaVia em Ayacucho – o sorvete também excelente
- Getulio em Cuiaba
- Detras da Catedral em Huancayo
- Burgos em Puerto Maldonado (este incluindo o fator
surpresa)
- sorvete e açaí no Pinguim em Rio Branco (ao lado do hotel
Lumini)
- Pachamanca na estrada Huancayo – Jauja – perto do
cruzamento do trilho – pela autenticidade
- La Mar e Rosa Nautica em Lima
- Bar e restaurante Kaled em Ji-Parana (também pela surpresa
de achar um local tão bem ajeitado nesta cidade)
- Cito o Casa do peixe em Campo Grande – achei bem bom, mas
o Alan que estava comigo gostou muito, então acho que vale a pena a menção.
FORA OS ACIMA, VALE MENCIONAR
Campo Grande – hotel Alkimia
Sonora (perto divisa MT e MS) – rest Nova Brescia
Cuiabá – hotel
Getulio, rest. Lelis peixaria,
sorveteria Sabores da Terra, bar Ditado Popular, restaurante Mangaba (SESC)
Tangará da Serra – hamburgueria TGA, cervejaria Stein, hotel
Mais
Perto do Sapezal e reserva indígena – rio papagaio – parada,
restaurante, rafting, hotel, rio maravilhoso – VALE A PENA PELO MENOS DAR UMA
ESPIADA.
Ji Parana – hotel Intercontinental
Porto Velho – hotel Flamboyant, rest casa do Tambaqui e don
Genaro (ambos no centro). O tradicional
Caravela até que tem comida boa, mas caro e decadente.
Extrema (RO) – restaurante sou daqui Gauchinha. Muito bom.
Rio Branco - casa do Tererê
(ao lado do hotel Lumini), açaí Kalesh algo assim (av Ceará bem pra diante)
Puerto Maldonado – hotel Jose Antonio´s, sorveteria (e demais
coisas de confeitaria) – Guestitos del Cura (na Plaza Mayor)
Cusco – hotel Jungle (perto Igreja São Pedro, restaurante
Incanto (EXCELENTE), , tratoria Adriano
(mais ou menos),. Café Panam na plaza
Recocijo (1 quadra da plaza de Armas), parecem bons – la bodega (calle
agustinos), inka grill, ollas bravas,
sumaqcha. a evitar – Don Thomas
Aguas calientes – hotel Adelas, rest Bijao, Chumpi tbem bom
boa referencia. Boulangerie (acho que ao lado do Bijao) – para lanches
Santa Maria – hotel JK
Chincheros – cooperativa têxtil URPI. Vale a pena ir.
Andahuyalas – hotel La Masion
Ayacucho – Las Tijanas (mais ou menos),
Huancayo – hotel Casa Hotel
Tarma - restaurante Doyon (calle Lima perto do
portal) , hotel Los Balcones (na Plaza
Mayor) e Los Portales (saída pra Lima)
Barranca – hotel Los Delfines pela vista do mar (a neblina
sempre aparece)
Quinchian – hotel Huayhuash. Tem o Los Nogales (padrão mais
alto)
Huanuco – restaurante Recreio Bambu – vale a pena
Oyon – hotel Minero
Lima – rest Embarcadero, hotel Imperial e El Reducto,
sanduiches do La Lucha Continua – na praça do agito em Miraflores. Perto tem o super mercado Wong (alto padrão
inclusive com comida pronta) . Hotel Las Palmas (perto deste supermercado),
hostel Ho.La (cara boa)
Na Panamericana Norte – entre km 77 e 83 (após Ancon - perto de Chancay) tem uns 2 ou 3 restaurantes
bem simpáticos. Cuidado se for cruzar a estrada.
-
33)
Pessoas e lugares
Ainda no Brasil me chamou a atenção a dominação da cultura
gaúcha (que pode inclusive ter sido trazida por catarinenses, paranaenses etc)
desde Campo Grande até praticamente Porto Velho. Pelos nomes e jeito das fazendas, urbanização
das cidades, tipo dos restaurantes etc.
O Peru continua sendo um local onde as pessoas estão sempre
animadas e prontas para ajudar, conversar etc. Sempre com um sorriso etc. Os policiais na rodovia param a gente
constantemente, mas não chegam a incomodar, apenas querem olhar os papéis,
falam alguma bobagem e nos deixam em paz.
Posto de gasolina apenas abastece e normalmente instalações
bem ruins. Alguns são de bandeiras mais famosas, até aceitam cartão de credito.
Em geral o frentista tenta encher ao máximo, vaza, fica cheirando dentro do
carro etc. Tem que ficar de olho e segurar a bomba.
Algo que chamou a atenção desta vez é o espirito
empreendedor do peruano, sempre batalhando e tentando achar seu caminho. O Peru
está se modernizando, isto traz problemas diversos mas parece que o pessoal está interessado em encarar esta
barra. O transito é bastante tumultuado, mas na pratica o pessoal vai com
calma, dá chance, não ataca pedestres etc.
Algo que chama bastante a atenção nas estradas é que
normalmente (me refiro a viagens dentro dos Andes) as cidades ficam em vales na faixa de 2 a 3 mil metros
de altitude. A partir da cidade a estrada normalmente sobe pra faixa de 4 mil
metros atingindo uma região de campos de altitude (Punas) onde o pessoal (no
verão) cuida das Alpacas (exigem pasto especial, não tem em qualquer lugar),
porcos, carneiros, cabritos e vacas. Raramente se ve criação de lhamas (usadas
para carga e em situação de emergência comem a carne mas dizem que é muito
dura). De vez em quando a gente passa
por rebanhos pequenos de Vicunhas que na maioria das vezes são selvagens. Nesta região a gente enxerga os nevados em
volta e muito comumente elas tem áreas com lagoas, provavelmente devido ao
terreno ser meio impermeável. Passada
esta região o normal é descer tudo e as vezes subir de novo. Num trecho de 100
km pelo menos dois sobe e desce destes aparecem. Pessoal cuidando da criação tem casas e
cercados (de pedra) para morarem ai na época do verão. Perguntei a um criador
quando começava a nevar e ele disse – quando soleia (quer dizer quando param as
nuvens constantes de chuva e o céu fica azulado – dali a pouco vem a neve)
Peruano adora comer, tem orgulho de falar da comida deles e
tem muito restaurante de todo o padrão pra todo o lado. Principais pratos são
algum tipo de sopa (principalmente caldo de galinha bem temperado), trutas,
pratos a base de frango (carne mais consumida – tara do peruano mas na Bolivia
é assim também.) , pedaços de porco ou frango fritos (chicharones). Os bolos aparecem muito e são super coloridos
no confeito externo. Tomam muita Inka Cola (diria que bem mais que CocaCola)
mas também chicha morada (bebida não alcoolica a base de milho escuro).Pisco
tem fama mas não se ve muita gente tomando. Pisco sauer seria o mais comum .
Por motivos que desconheço o Peru (e o Mexico) foram pródigos
em produzir culturas indígenas de alto nível de avanço. No Peru dá pra citar (sem ser muito preciso)
as seguintes principais culturas:
Caral (3.000 AC) – perto de Lima
–cidade mais antiga das Americas.
Paracas (1.500 AC) – uns 200 km
ao sul de Lima – famosos pelos tecidos
Chavin (1.000 AC) – primeira
grande cultura com influencia em região extensa. Localizada perto de Huaraz,
nos Andes a uns 400 km de Lima (nordeste)
Wari – (600 DC) – localizados na
região de Ayacucho (500 km sudeste de Lima, nos Andes também)
Chancas ( 1200 DC) – região
similar – parte sul dos Andes
E ai finalmente apareceram os
Incas (1.400 DC) que juntaram tudo isto (em Caral, por exemplo, já encontraram
quipus – aqueles nós utilizados para contabilidade e contagem em geral)
Tem muita denuncia de corrupção e incompetência do poder
publico nos jornais, na TV (que é especialmente escandalosa – vários canais no
mesmo estilo. Em valor talvez não seja tanto como no Brasil, mas em penetração
na sociedade parece que é complicada a coisa. De certa forma relacionado com
isto tem os indicadores de educação no Peru que são ruinzinhos. A escola provavelmente é boa, mas parece que
pouca gente termina o 2º grau por exemplo.
Um trecho especialmente interessante da viagem foi de
Ayacucho a Huancayo – por mais de 100 km a estrada vai beirando o rio Mantaro,
mas praticamente passa um carro só, e a gente vai se ajeitando entre o paredão
de pedra e o precipício no rio.
Com certeza carecendo de uma analise mais detalhada, mas me
chamou a atenção – a quantidade de papelarias em Tarma e a quantidade de
sorveterias em }Ayacucho.
Ayacucho na verdade foi uma boa e grande surpresa da viagem.
Cidade muito legal, artesanato interessantíssimo (barro e madeira), muitas
igrejas (eles não conseguem manter as mesmas) e o estilo colonial da cidade
como um todo. Ficava olhando as igrejas e pensando que os caras chegaram ali
naquele confim das montanhas apenas 25 anos depois do Pizarro “conquistar” o
Peru. Haja esforço concentrado.
As minas em geral se localizam acima de 3500 metros – prata,
cobre, zinco, chumbo. Ouro mais difícil (mais ao sul e ao norte do pais). Chegam a ter 1600 metros no poço vertical e
lá embaixo circulam veículos Diesel normais. Me contaram que em geral a
temperatura dentro destas minas é na faixa de 18 (as mais rasas – faixa de 400
metros de profundidade) a 26 graus
centigrados (poços mais profundos na faixa de 1500 metros.
A Pascoa começa na
quinta de manhã, a tarde fecha quase tudo. Sábado malham o Judas e pessoal
comemora, a noite tem banda pelas cidades circulando nas ruas, muitas festas
etc. Domingo não se fala mais no assunto. Sexta feira santa não tem aquele ar
parado, lojas abrem, pessoal circula normal.
Naturalmente que nas cidades mais ricas – Lima especialmente – tem o
grande fluxo de famílias saindo da cidade e indo para as praias etc.
Corridas de touros – 3 milhões de pessoas assistem
anualmente (futebol fica na faixa de 1,5 milhão de pessoas), 250 praças (4
categorias – mais alta – ACHO – tem uma em Lima e algumas em outras cidades...)
- maio a julho. Tem um projeto no
Congresso tentando proibir isto, mas creio que não passa. A questão do
tratamento de animais ainda está longe das prioridades do peruano comum.
44)
Avaliação Geral
Primeiro sobre ir de carro ao Peru. Não tem maiores
problemas, mas tem que manter o sangue frio e não se estressar. Tanto no que se
refere ao jeito dos outros motoristas dirigirem (realmente muito tosco) mas
também a questão das estradas, altitude, precipícios etc.
O contato com o peruano é muito tranquilo, gostam de
conversar, de ajudar etc.
Tem o lado das paisagens, tão únicas especialmente para nós
brasileiros, mas também os costumes locais, o jeito do povo, o artesanato. Como
a tradição indígena está muito mais viva lá, em todos os aspectos, fica bastante
diferente da sociedade brasileira. O que
chamou especialmente a atenção foi a operosidade dos peruanos, sempre
batalhando e buscando fazer alguma coisa. Raramente se vê grupos de homens a
toa na rua, quero dizer muito menos que no Brasil, Paraguai, Bolivia etc...
As cidades em geral, fora os locais históricos, turísticos e
similares, são bastante mal cuidadas, seja nas ruas e calçadas, seja nas
próprias casas. Dificilmente a gente encontra uma quadra que seja agradável de
ficar contemplando o local.
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